O Fio.

Eu o observava. Todo dia eu o observava.
Eu não era a mais popular. Eu não era a mais bonita. Eu não era a mais inteligente ou a mais divertida. Eu não tinha tantos amigos, não saía para festas ou para encontros sexta à noite. A verdade é que eu ficava em casa, agarrada em meus travesseiros enquanto assistia meus desenhos, animes e séries preferidas. Eu não era interessante.
Mas ele? Ele também não. Não era o mais bonito, popular ou inteligente. Não tinha tanto talento e era ridicularizado por seus amigos quando se virava para ir embora. E ele sabia. Ele sabia disso; ele sabia que eu sabia.
Nós nunca conversamos. Mas eu sempre ficava até o término de sua aula para ouvi-lo tocar. Não era o mais afinado, harmônico ou ritmado, mas isso não importava, para mim, o que importava era ele.
Mesmo colégio, mesma turma, mesma idade. Nós éramos colegas desde o ano passado, mas nunca conversamos. Ele, um garoto alto, de cabelos crespos e castanho e olhos escuros. Eu, uma garota baixinha de cabelos lisos e escuros. Nós, tímidos, introvertidos, sem grandes amigos, apenas decididos a aguentar a escola enquanto durasse. Mas o que será que ele fazia para se divertir?
~x~
Eu não era o mais popular. Eu não era o mais bonito. Eu não era o mais inteligente ou o mais divertido. Eu não tinha amigos, não saía para festas ou encontros sexta à noite. A verdade é que eu ficava em casa, deitado sobre meus travesseiros enquanto jogava vídeo-game. Eu não era interessante.
Então, por quê? Por que ela me seguia? Ela não era “furtiva”, era um tanto atrapalhada. Me encarava descaradamente, corava e desviava o olhar. E ela sabia, ela já me vira chorando.
Nós nunca conversamos. Mas ela sempre ficava no colégio após a aula, lendo seus cadernos enquanto eu estudava piano na sala de música. Por quê?
Mesmo colégio, mesma turma, mesma idade. Nós éramos colegas desde o ano passado e nunca conversamos. Ela, uma menina de vestes passadas, focada em seus estudos e fã de criaturas 2D. Eu, um menino, de vestes amassadas, focado em meu mundo e fã de criaturas 3D. Nós, os esquisitos da turma que não falavam ou interagiam e passavam o intervalo comendo um pastel da cantina em um canto obscuro do pátio da escola. O que será que ela pensava?
~x~
Era estranho. Era estranho ter ele todo dia próximo a mim, mas ao mesmo tempo tão distante. Ele sentava na cadeira do lado oposto da sala, próximo a janela, uma fileira para frente, o que me dava uma visão mais do que privilegiada para poder enxerga-lo. Ele não sabia, eu espero. Todo dia ele se perdia em um mundo particular, viajando enquanto olhava para a janela ou balançando a cabeça afirmativamente enquanto olhava diretamente para o professor. Ele era engraçado. Mas naquele dia ele ficou triste e eu não pude ajudar.
Era início do intervalo quando eu cheguei na cantina para comprar meu salgado. Ele já estava lá, sentado em uma das mesas enquanto falava com seus amigos, eu não o vira sair da sala. Enquanto eu permaneci na fila ele ficou conversando com seus amigos sobre suas aulas de piano e outros assuntos sobre terceiros.
Eu comprei meu lanche e o comi sob a sombra de uma palmeira, próximo a escadaria do pátio. Lá eu podia observar as crianças brincando de pega-pega e meus colegas avaliando os outros como uma mercadoria em uma estante. Próximo ao bar eu o vi saindo pela porta, parando e pegando seu celular. Alguns minutos se passaram e ele já não prestava mais atenção em seu aparelho, mas o apertava com raiva a ponto de deixar seus dedos avermelhados.
Ele correu, tão rápido quanto conseguia e desapareceu. O que será que aconteceu?
Eu me preocupei. Pensei em correr atrás dele e dizer que ia ficar tudo bem. Mas. Só que. É que. Eu não.
Eu me levantei cabisbaixa e cruzei o pátio. Coloquei meu lixo em uma das latas e caminhei pelo longo corredor em direção a minha sala. Eu pensei nele. Será que estava tudo bem?
Quando olhei para cima, em direção a porta do banheiro masculino, ali estava ele. Me olhando, com os olhos inchados e vermelhos. Ele segurava um dos braços e segurava o choro na garganta. Uma lágrima escorreu.


Nós ficamos nos olhando por um tempo que pareceu eterno, até ele levantar um de seus braços e secar as lágrimas de seus olhos, entrando novamente no banheiro.
O maior arrependimento de minha vida foi não ter tido reação. Eu queria ajudar, mas não consegui. Droga.
~x~
Era estranho. Era estranho ver uma pessoa todo dia, estar tão próxima a ela, mas estar tão distante ao mesmo tempo. Ela sentava na cadeira ao lodo oposto de onde eu ficava, próximo a janela, uma fileira para trás. Ela devia achar que eu não via, mas como já disse, ela não era muito furtiva. No reflexo do nosso quadro branco eu podia enxerga-la, com o rosto virado em minha direção, me observando enquanto eu fingia prestar atenção nas palavras do professor. Eu não prestava, ela também não. Eu a via rabiscar no seu caderno, mas não as palavras que estavam no quadro ou sendo ditadas pelo nosso professor. Desenhos? Talvez. Ela era uma pessoa interessante. E ela sabia.


Eu saí da aula antes do intervalo começar com a desculpa de ir no banheiro e fugi para a cantina onde alguns de meus “amigos” estariam me esperando para conversar. O sinal tocou e, tão rápido quanto, ela chegou, indo para a fila de pedido/pagamento. Nós permanecemos na mesa até depois dela sair, conversando sobre minhas aulas de piano e conversando sobre conhecidos que não estavam mais entre nós.
O intervalo passou, eu lanchei junto deles e levantei antes do sinal com a desculpa, novamente, de ir ao banheiro. Fora da cantina a criançada corria solta e após quase servir de mureta para uma, senti meu celular vibrar. Minha irmã havia me mandado mensagem para passar no supermercado e comprar guloseimas para ela, mas fora a conversa ao fundo que chamara minha atenção. Meus ditos amigos estavam falando sobre mim, achando que eu já estava longe. Xingamentos, rebaixamento, desencorajamento, vergonha alheia, pena, ridicularização. Eu sentira raiva, mas, mais do que qualquer outra reação, eu só queria chorar.
Eu corri tão rápido quanto consegui e cheguei no banheiro, trancando-me em uma das cabines. Eu chorei. Solucei e apertei minha camiseta forte a ponto de deixar marcas avermelhadas em meus dedos. Respirei. Saí da cabine com esperança de não encontrar alguém ali e lavei meu rosto em uma das duas pias do banheiro.
Eu me olhei no espelho, olhos inchados e vermelhos. Balancei a cabeça negativamente e ri, de nervoso. Me dirigi a porta e quando a atravessei, ali estava ela, me olhando, com os olhos preocupados. Ela apertava seu casaco, mexendo os dedos de leve. Uma lágrima escorreu.
Nós nos olhamos por um tempo que pareceu eterno. Eu sequei as lágrimas de meu rosto e voltei para o banheiro. Droga!
O maior arrependimento de minha vida foi não ter tido reação. Ela queria ajudar, mas eu não conseguia dizer, eu não consegui pedir. “Me ajuda”.
~x~
Isso já faz três anos, o metrô balançou. Três anos que me formei e deixei para trás a culpa que sentia, mas não o sentimento que tinha por ele. Onde quer que eu estivesse, que a vida o tenha abençoado com a mais pura felicidade.
~x~
A porta abriu ao som do aviso de cuidado e eu desci do metrô já atrasado. Por que eu estava sempre atrasado? Não adiantava, uma multidão se formou e só a paciência me tiraria daquele lugar. Onde será que ela está? Três anos já se passaram. Eu devia ter falado algo. Por que eu sempre pensava isso?
~x~
Todo mundo desceu com pressa, atrasados para seus trabalhos e entrevistas, mas eu estava calma. Depois de muito tempo, estava voltando para casa. No caminho, subi as escadas rolantes para o segundo andar e me distraí com o cartaz de um novo filme que lançaria este mês. Por estar alheia ao momento, caminhei cega no meio da multidão e me choquei de frente contra um garoto que caminhava na direção oposta, derrubando seu livro no processo.
Pedi desculpas inúmeras vezes e me abaixei para pegar seu livro de capa vermelha cujo o título se lia “O fio vermelho do destino: A história.”. Ele era alto, com cabelos negros e olhos claros. Aceitou minhas desculpas de prontidão e pôs-se a percorrer seu caminho novamente. Eu corei, com vergonha de ser tão distraída.
Depois de arrumar meu cabelo, voltei a caminhar o extenso corredor do metrô. Até parar no meio da multidão e sorrir de forma de estranha. Ele estava ali, sentado em um dos bancos enquanto comia um dos sanduiches da lanchonete em frente.

Ele me viu. Ela acenou. Eu a chamei. Eu me sentei. Parece que nós teremos muito assunto para conversar. Oi. Oi. A gente sorriu.

Sozinho.

O problema disto tudo está em quando nós estamos rodeados de pessoas, mas ainda assim nos sentimos sozinhos, deixados de lado por eventos do qual nossa presença não é lembrada. Sinto falta dos convites, estou cansado de ir atrás, sinto falta de virem, ao invés de sempre eu ter de ir. A verdade é que eu não me importo de me deslocar, mas me importo. Penso que aventuras ganhei, mas também penso no que já abandonei, não sei se por escolhas minhas, ou se pela minha presença não mais fazer sentido para aquele dito amigo. Sou lembrado quando estão mal, sou lembrado pelas posses, mas a quanto tempo não me chamam para a praça, para o shopping, para a casa. Tenho amigos, mas hoje me sinto sozinho.

Desabafo 17|01|17

É difícil ter uma falsa escolha de decisão e estar de mãos atadas na escolha de suas verdades.
Ansiedade, melancolia, desespero. Não querer estar onde está e ser obrigado a estar, caso contrário, não se sustenta, cai, é derrubado, assim como toda estrutura construída.
Sinto saudades do Reiki, saudades dá massagem, saudades de 5 meses atrás. Depressão. Saudades do meu tempo, das minhas escolhas. Enojado do atual, cansado das pessoas, cansada dos nomes e dá má administração do tempo. Cansado das falsidades, cansado dá terceira dimensão, se assim posso dizer.
Saudades de minha casa, de minhas criações, de minhas histórias.
...
Perguntam-me por que não falo, mas de que adianta? Nada mudará, a riqueza não vira de um lado. Outrora vivíamos no limite; íamos a Bento, a Xangri-lá, consultar, fazer nosso dinheiro; hoje estamos presos, nas falsas escolhas. Reclamar é em vão, resta-me esperar e ter ideias, viver a imaginação é acertar de alguma forma.
Então peço desculpas, mas não vejo muitas alternativas. Falso positivo.

25-07-2016

Com os olhos vendados o menino carregava um mundo em suas costas. Suas dores, ocasionadas pelo livre arbítrio, repercutiam em sua vida com mais força que antes, joelhos, olhos, ombros, o menino sentia por completo o êxtase da vida vivida sem planejamento, buscando a sofrência de uma alma aflita, afundada na própria amargura do ser.
Para se levantar de uma situação parecida, encha-se de amor, buscando novos horizontes e procurando novas alegrias. Flexibilidade, força de vontade, levantar, ser, entender a nova era é o que está, então faça, tire proveito, Seja o que quiser seres.

23-07-2016

Seus olhos eram verdes com uma floresta e expressavam a melancolia de uma alma abandonada, esquecida por ela mesma.
Ao se olhar no espelho não se reconhecia, enxergava mais do que seus olhos podiam ver e não se contentava com a triste realidade de ser quem ele era.
Vivia num mundo a parte onde a luz vestia sombra e a sombra vestia luz, um paradoxo existencial, criado pelo ser que ele julgava ser ele mesmo, um guerreiro em meio aos homens.
Faminto, com os olhos sedentos por conhecimento, transitava por aqueles com que se relacionava, observando, aprendendo, não pela teoria, mas pela prática.
Divaga, cria, consome, cria, consome, divaga, uma alma unilateral, você, onde decisões são feitas baseadas em uma rápida existência que se estende de eras antigas até reinos atuais.
Um homem, uma dor, uma criança, um amor.

O Boy

O boy que precisa falar e o Boy que busca silêncio.
O boy que fala pede pra falar, o Boy que silencia faz força pra falar.
O boy que fala se cala. O boy que silencia, silencia.

Ser alguém

Esse sou eu. Não você. E a pior parte é que você não pode ser eu. Você não deve ser eu.
Eu sou aquela pessoa que sabe destruir, que sabe onde estão os seus pontos fracos e que, se for necessário (se eu julgar necessário), usará isso a meu favor. Fazendo o máximo para destruir o "inimigo". Entretanto, sou aquele que mede seus atos, tendo conhecimento das consequências. Sei como tudo acabará e tenho resistência para suportar. Sou uma pessoa sozinha, que vive com os outros por não ter para onde correr. Você realmente está preparado para isso?

Um alvo.

Felicidade,
Cercada de inveja
Não se pode vê-la em ação
O desejo de se ter toma conta
Incessante no admirador em questão
Ele toma para si a vontade de encerrar
E acaba pela felicidade alheia enterrar

Felicidade
Uma conquista.

Felicidade
Um alvo.

Mais uma rodada.

Uma dupla confusão
O medo de magoar
A vontade de executar

Como conter tamanho desejo?
Como repreender tamanho prazer?

Não há sentimento
Apenas a vontade de agir

Sou de alguém e este alguém me tem
Não é como mentir, mas apenas permitir

Não nego tal anseio
A vontade de repetir a dose, 3, 4 ou mais

Foi uma conquista
Não me importa o resto
Sei o que sinto, o que quero ao além
Mas essa diversão me enche de lembranças
Me enche de lembranças de certo alguém

Não sei se é certo, se devo assumir
Só sei o que quero repetir.
- Garçom, outra dose por favor!

inFeliz

Gostaria de conseguir escrever nos momentos felizes
Escrever tanto quanto escrevi no momentos tristes
Ter a inspiração que tive em meio as cicatrizes
Ter o proveito que tive junto aos infelizes

Este fora meu pensamento
A maior bobagem que já pensei

Sou um escritor
Sou músico
Um poeta
Sonhador

Escrevo aquilo que vivo
Vivo aquilo que escrevo

Uma via de duas mãos
Basta estar paciente
Para que a inspiração
Surja de forma aparente

Escuro

E então ele estendeu sua mão, buscando tocar a luz esbranquiçada entre as nuvens de algodão. O barulho insuportável dos carros na avenida atormentava os ouvidos sensíveis daquele adolescente; uma leva brisa passava por seu corpo, balançando seus cabelos, sua camisa, e fazendo os pelos de sua nuca eriçarem, arrepiando todo o corpo no processo.
Nada mais restava a fazer. A luzes, apagadas por eventos fora do controle pessoal, morriam aos poucos em frente a seus olhos. Chamas de pessoas com medo, chamas de enamorados, chamas de curiosos, chamas de luz.
Seu corpo, cansado devido ao calor, buscava uma forma de se esfriar, bebericando da pouca água gelada que restava em seu copo, esfregando sua testa com o pano de prato em seu ombro, sentindo o a brisa entrar por suas roupas e o abraçar. Arrepio.
O mundo parecia amigável naquela situação. Pessoas que não possuíam costume de ser falar, saíam pelas ruas em busca de outros curiosos, averiguando as possíveis teorias para o fim da amada luz. Carros andavam devagar, sem a típica velocidade diária, sem a típica pressa com a vida. Não existia mais congestionamento, o que era estranho aos olhos do sistema vigente, já que, com três luzes, tudo se controlava.
Ele olhava para a luz da lua com os olhos brilhando. Não queria estar onde está, não queria fazer o que estava fazendo. Ainda mais no escuro.

O que fazer em uma situação como esta? Não possuindo velas, sem ter eletrônicos carregados, sem ter como escrever, sem ter como compor e possuindo medo do escuro.

Sonhos e pesadelos - De tijolo a castelo

Como poderia alguém se importar com um ser como este?
Como poderia crer que dará certo com um ser como este?
Onde está sua esperança e força de vontade para um futuro melhor?
Saia de perto dele, não há nada a ganhar, se afaste de um ser como ele.

Eu não me importo
Podemos passar fome
Podemos sofrer com o frio
Termos que roubar
E tomar banho no rio

Podemos ir a falência
Cair no buraco mais fundo
E perder a sapiência

Mas não importa, não há um critério
Pois, com um ser como este
Construiremos um império

O ataque louco das baratas demoníacas

Era noite
As cortinas balançavam e vento assoviava

Eu estava sozinha
Fechada em meu quarto, adentrando a madrugada

Tudo estava calmo
O relógio tiquetaqueava e ao vento balançava

Era minha noite de lazer, minha noite de sossego
Mas tudo mudou, quando ela atacou

As patas peludas
De pura podridão
As asas demoníacas
Reproduzindo o trovão

Do seu canto ela atacou
Voando ao meu redor
Calculando sua trajetória
Planejando a vitória

Sozinha e sem força
Encolhi-me em minha cama
Chorando como uma criança
Sem um pingo de esperança

Ela emitia sons em meio ar
Não havia como tudo piorar

Pela janela pouco aberta
Novas amigas se juntaram
Circundando minha cabeça
Observando minha beleza

Direcionando o corpo
Subindo em meu tornozelo
Percorrendo meu braço
Andando em meu cabelo

Que triste fim
Coberta e sem ar
Sufocada por toneladas
Em cima de mim

Inspirado na história de J. Roth. [a.k.a - Juke]

O Passado