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Escuro

E então ele estendeu sua mão, buscando tocar a luz esbranquiçada entre as nuvens de algodão. O barulho insuportável dos carros na avenida atormentava os ouvidos sensíveis daquele adolescente; uma leva brisa passava por seu corpo, balançando seus cabelos, sua camisa, e fazendo os pelos de sua nuca eriçarem, arrepiando todo o corpo no processo.
Nada mais restava a fazer. A luzes, apagadas por eventos fora do controle pessoal, morriam aos poucos em frente a seus olhos. Chamas de pessoas com medo, chamas de enamorados, chamas de curiosos, chamas de luz.
Seu corpo, cansado devido ao calor, buscava uma forma de se esfriar, bebericando da pouca água gelada que restava em seu copo, esfregando sua testa com o pano de prato em seu ombro, sentindo o a brisa entrar por suas roupas e o abraçar. Arrepio.
O mundo parecia amigável naquela situação. Pessoas que não possuíam costume de ser falar, saíam pelas ruas em busca de outros curiosos, averiguando as possíveis teorias para o fim da amada luz. Carros andavam devagar, sem a típica velocidade diária, sem a típica pressa com a vida. Não existia mais congestionamento, o que era estranho aos olhos do sistema vigente, já que, com três luzes, tudo se controlava.
Ele olhava para a luz da lua com os olhos brilhando. Não queria estar onde está, não queria fazer o que estava fazendo. Ainda mais no escuro.

O que fazer em uma situação como esta? Não possuindo velas, sem ter eletrônicos carregados, sem ter como escrever, sem ter como compor e possuindo medo do escuro.

Sonhos e pesadelos - De tijolo a castelo

Como poderia alguém se importar com um ser como este?
Como poderia crer que dará certo com um ser como este?
Onde está sua esperança e força de vontade para um futuro melhor?
Saia de perto dele, não há nada a ganhar, se afaste de um ser como ele.

Eu não me importo
Podemos passar fome
Podemos sofrer com o frio
Termos que roubar
E tomar banho no rio

Podemos ir a falência
Cair no buraco mais fundo
E perder a sapiência

Mas não importa, não há um critério
Pois, com um ser como este
Construiremos um império

Cópia é morta

Hoje eu tive um sonho
Um sonho em que tudo acontece de cabeça para baixo
Um sonho que se transformou em uma tortura
Deixando todos, de certa forma, calados, imóveis, parados

Hoje ele morreu
Morreu por vontade do destino, nada tinha a executar
Morreu feliz, junto dos amigos, junto da diversão
Caiu de trinta e quatro andares, ao encontro do rijo chão

De ilusões

Vivo com base em uma esperança decadente
Convivendo com personas que julgo atraentes
Iludindo-me em prol de uma pseudo relação
Evitando, de fato, um caminhando de atuação

Perco-me entre pensamentos e formas de agir
Imobilizo-me, estático, sem saber como sair
Gasto tempo dialogando com as novas formas
Testando existências de novas plataformas

De caráter doentio
Conviendo com o eu
Morando no vazio
Enfrentando o sandeu

Sinto saudades

Sinto saudades de tudo aquilo que vivemos
Do passado repleto de ensejos e do futuro repletos de desejos

Sinto saudades dos sorrisos vividos
Dos olhares pervertidos e dos gestos corrompidos

Sinto saudade dos ensaios
Das palavras faladas e das músicas cantadas

Sinto saudade de ti por inteiro
Sinto saudade...
Sinto falta...
Sinto falta de ti por inteiro.

De Jane à Juke

De brigas em brigas
De brigas intrigas
Discutindo o aleatório
Discutindo em meio ao refeitório

Apontando incompetências
Sem perder a compostura, mantendo as aparências

Derrubando as migalhas
Lutando com palavras, ambas em confronto na batalha

Tudo brincadeira
Tudo diversão
Acaba com uma simples risada
Pondo um ponto, um fim na discussão

Estraçalho


Espelhos entre os mundos descontínuos
Luzes de vontades adormecidas
Reflexos de desejos a muito escondidos
Acorrentando os sentimentos, pútridos, revividos

Vivendo uma vida singela
Simples, livre de todos os problemas
Sonhando em voar alto
Desejando alcançar tudo com um simples salto

Preso entre os espelhos
Reflexos infinitos de vontades não vividas
Pensando em como as coisas seriam
Sem ter vontade de agir
Sem ter vontade de fazer a vida fluir

Vivendo dentro dos poréns
Acorrentando os sentimentos compartilhados
Provindos daqueles com quem falo
Sentimentos não recíprocos
Culpando os outréns

Preso em um mundo de verdade
Escondendo os desejos
Devido ao medo de perder
Devido ao medo do que possa acontecer

Pobres vontades
Alimentando com os sonhos os desejos já caídos
Tentando revivê-los, tentando encorajá-los
Mesmo quando o Vital os quer longe
Mesmo quando o Vital os quer acorrentados

Torcendo por uma vida livre
Com nenhum vaso estraçalhado

Preso pela Verdade

  Vinte horas, um grupo, composto por oito pessoas, se aproxima de uma agencia bancaria e quebra, com um martelo, os vidros laterais, adentrando no local e furtando uma grande quantidade de dinheiro. Os alarmes e câmeras de segurança da agência não estavam ligados, apesar de ainda haver luz nas proximidades. Fator que dificultou a ação da polícia, que recebera ligações anônimas informando sobre o assalto.
  Os dias passaram e as investigações prosseguiram. Eles recolheram depoimentos e retratos falados, divulgando-os em redes de televisão, internet e jornais. Duas semanas se passaram, até que, em uma nova tentativa de assalto, o grupo fora pego, entretanto, com um número reduzindo de integrantes, apenas cinco.
  “Silêncio!” gritou o juiz enquanto batia com seu martelo na mesa a sua frente. “Se nos contares onde estão os outros três componentes, diminuiremos sua pena” disse o juiz olhando para um dos acusados, que se levantou e falou rapidamente “Eu nunca trairei meus companheiros”. “Isso já não importa mais” disse o líder da quadrilha “Eles estão mortos, eu mesmo os matei após concluírem seu trabalho” continuou. “Qual parte do trabalho?” questionou o juiz.
  “Você deve ser um homem muito culto” iniciou o líder da quadrilha “Já deve ter frequentado teatros e apresentações protagonizadas por orquestras, notando que, em uma orquestra, cada indivíduo possui uma função diferente e que, quando unidos, conseguem atingir a perfeição musical.” O juiz olhou-o mais sério. “Conosco não é diferente” continuou “Somos parte de uma peça maior que, quando executada por completa, atingimos os objetivos, ou, a mais bela sinfonia.”
  “Por que os matou?” perguntou o juiz com uma maior impaciência. “Dinheiro” respondeu o líder “Não é esta a meta das pessoas? Conseguir dinheiro?” fez uma pausa e ajeitou o cabelo “Veja bem, quando o dono de um posto de gasolina baixa seus preços para atrair mais clientes e isto faz com que os outros postos ao redor sofram um prejuízo, e a conversa não adianta, só para constar, mata-se o sujeito como aviso para os herdeiros e tudo se resolve. Não é diferente conosco. Eu os matei para sobrar mais dinheiro para mim” fez uma curta pausa “Imagine o bem que faria para a população se nós matássemos todos os corruptos e os que merecem morrer?” “Você seria morto” completou o juiz. “Sim!” gritou o líder “E morto por um de meus capangas” continuou. “Onde você quer chegar?”
  “Como já lhe disse, me inspiro nos grandes. Roubo da plebe para satisfação pessoal. Ou, no seu caso, julgo erroneamente os culpados que possuem dinheiro para satisfação pessoal.” O juiz se levantou irritado e olhou em seus olhos. “Que assim seja, condenado por roubo, homicídio e desacato a autoridade.”

Sonhos a alucinar

Dentro de uma lata automotiva
Rodeado de pessoas inofensivas
Sentando ao lado de alguém importante
Esperando entrar o ser caminhante

Cinco minutos
Tempo de duração
Rota de fuga
Uma só direção

A lata para
Euforia ao aparecer
Risadas ao entrar
Troca de olhares
Sonhos a sonhar

Mal sabe que existimos
Mal sabe que admiramos
Mal sabe os motivos
O que isto se tornará?

Dois dias consecutivos
Suficiente para me animar
Suficiente para me enlouquecer
Sonhos a alucinar

Dentro de uma lata
Lata com roda
Lata espichada
Vibrando em ressonância
Admirando a exuberância

Pequeno espaço de tempo
Suficiente para a indecência
Torrente de pensamentos
Responsável existência

Sentimentos por um ninguém
Incógnita em minha vida
Esperando o momento
Tarde
Hora de descer

Lata automotiva
Testemunha de minha história
Lindos capítulos a devorar
Com personas que nem nos olhos
Conseguem se olhar

Cá estou em minha cadeira pensando nos fatos da vida.

Há tempos não escrevo algo decente, condizente com minha realidade.
~Qual realidade? Aquela que penso viver ou aquela que imagino?~
Minha perda de interesse nos fatos mundanos me distanciam dos momentos de sanidade

Fico sentado me distraindo com códigos binários e fugindo do, dito, real; aliviando as tensões causadas pela falta de interesse no futuro e adjacentes.
Perco-me entre um emaranhado de palavras escritas em tinta de baixa qualidade estampadas na capa de um livro alta capacidade.
Devaneio entre pensamentos incoerentes e insanos, repleto de sonhos complicados de acontecerem, talvez por não ter tempo, talvez por ser incapaz.
Esfrego os olhos na tentativa de dissipar algumas lágrimas, tentando me livrar de incomodações que sismam em me perseguir; problema minaz.

Abraço travesseiros na tentativa de aliviar a falta de um prazer carnal
Imagino situações com certo alguém, na tentativa de um prazer imaterial
~Carência, lembranças de um passado~

Fico me perguntando quando tudo mudará, mas como isto há de acontecer se não tomo as devidas atitudes?
~Como se faltasse vontade. Como se faltasse competência. Como se este fosse meu último dia de chuva. Como se este fosse meu último dia de vida. Como se eu portasse uma passagem só de ida.~

Decisões

Sonhos mudam
Um novo labirinto
Novas paredes
Novas metas
Decisões precipitadas
Medos coerentes
Uma nova depressão
Uma nova reflexão

Agrura bilateral

Desculpe, pronunciou a pequena menina
Tudo bem, não há com o que se preocupar
Arrisquei à acalmar, um simples ato de abraçar
Tarde demais, contra o vento agora corria

Cacos de um vaso aos pedaços cobrem os meus pés
Memórias encastoadas em diversos pedaços
Almas perdidas na guerra de "Mount Parnassus"
Como ei de saber de qual alma o pedaço és?

Guerras internas com agrura bilateral
Forma de frustar os próximos do coração
Leis impostas pelo mais hediondo tribunal

Desleais que me deixaram apenas frustração
Amargura de um falso ser celestial
Sobrevivente a uma vil dissimulação

Destruindo prédios

As rachaduras, ocasionadas por um combate, enfraqueciam as bases cinzentas de concreto dos prédios da rua Lalaí. Devido a circunstâncias ainda não entendidas, nenhuma pessoa transitava pelas calçadas e nenhuma luz, dos apartamentos, estava ligada. O silêncio fazia parte da cidade, e mesmo que uma leve brisa se fizesse presente, nenhum som era escutado, nenhum ruído ecoava pelos becos da cidade. As lâmpadas incandescentes dos postes estavam aos poucos se queimando, devolvendo parte do caos àquela pequena cidade.
Talô estava sentado no parapeito de um prédio que, aparentemente, balançava de um lado para o outro em pequenas proporções. Ele observava o brilho ofuscado das estrelas, esperando que algum cometa rasgasse o céu. Sua respiração estava pesada, como se o ar que existisse naquela área não fosse o suficiente. Seus sentimentos estavam confusos, travando uma guerra que parecia não ter fim; sua mente, apesar de registrar as imagens da lua e das estrelas, estava longe, vagando por entre mundos hipotéticos criados por situações impossíveis de se consertar.
- Talô.
Uma voz conhecida ecoou em sua mente, fazendo-o despertar do transe em que se encontrava. Ele continuou olhando o céu, afinal, seus pensamentos, no momento, eram mais importantes do que sua nova companhia.
- Talô, por favor. – Sua voz era calma, baixa e melódica. Não indicava ordem, mas um pedido.
Lágrimas escorreram pelo rosto de Talô, não de tristeza, mas de medo. Suas mãos e pernas começaram a tremer e seus olhos a perder o foco, algo muito forte mexia com ele.
- Eu consegui acabar com todas as chances de realizar o meu sonho. – Suas palavras eram ditas entre soluços e pequenos grunhidos. – Eu perdi aquela luta. Eu não tenho mais motivos para continuar nesta terra mundana.
- Isso não é verdade Talô, você pode continuar nesta terra. Basta não pensar no que aconteceu hoje. – Ela chegou mais perto e encostou a mão em seu ombro. - Para tudo se dá um jeito.
- Você não entende Vena. – Disse ele mirando o chão.
- Por que você acha isso? É pelo fato de eu não precisar me preocupar com este mundo físico? Ou pelo fato de eu estar servindo de espirito guardião para você e ter falhado nesta batalha? O seu fracasso é o meu fracasso. A culpa também é minha.
Talô ergueu sua cabeça e encarou a imagem da mulher que pairava em seu lado. Suas almas estavam ligadas por um contrato, fazendo com que suas vontades, fracassos e conquistas fossem as mesmas, não havendo um único culpado, ou um único ganhador.
- Não vai adiantar Vena. - Ele voltou o olhar para o céu e encarou a lua.
- Você é muito teimoso, nunca presta atenção no que eu tenho a dizer. O que você vai fazer agora?
- Você disse, quando nos conhecemos, que eu era um construtor.
- Eu sei, mas...
- Minha construção foi finalizada. Eu não tenho mais o que fazer aqui.
- Ela não foi finalizada Talô. Ainda há muito que fazer.
- Mentira. Você sabe que acabou. Eu não a concluí, mas fizeram com que ela fosse acabada do jeito que está.
Talô se pôs de pé e calculou a altura de onde estava. Seu corpo inteiro tremia e pequenas gotas desprendiam de seu rosto. Vena sabia o que iria acontecer, mas não podia fazer nada era contra a lei imposta aos guardiões. Seus olhos miraram o protegido e, em seguida, as estrelas, como se esperasse que algo diferente acontecesse.
- Desculpe-me Vena.
- Se esta é a tua vontade, eu não posso impedir. – Disse sem tirar o foco do céu
- Eu já não tenho mais o que fazer aqui. Todas minhas ilusões foram quebradas, meus desejos consumidos e minha vontade incendiada. Você está livre, pode ir para onde desejares.
- Tudo bem. Não achei que tudo terminaria assim. Adeus Talô, foi um prazer estar do teu seu lado durante estes dias.
Uma forte rajada de vento percorreu o topo do prédio e pequenas nuvens encobriram o brilho da lua. Vena deu as costas e caminhou rumo ao outro lado do prédio, sumindo em meio ao ar.
Talô respirou fundo e mirou o chão. Algo dentro dele dizia que era a coisa errada a se fazer, mas, depois de tudo que aconteceu, como ele poderia se reerguer, iniciar uma nova construção. A imagem de Vena surgiu em sua mente, porém, isso não iria salvá-lo. Ele esticou uma perna e deu um passo para frente.
- Vena, meu prédio foi finalizado. Já não tenho mais o que fazer aqui.

Mãe

"Vai te vestir, está frio."
"Eu não te falei?"
"Isso não é do teu feitio."

Frases ditas por uma moça na maturidade
Uma donzela levemente desequilibrada
Fazendo de tudo para conquistar a felicidade

Pode ser como as outras
Ter as mesmas bases
Os mesmos diálogos
As mesmas frases

Mas ela é única

Cultivou-me por 9 meses
Enjoando
Desmaiando
Sendo chutada
Sentindo-se pesada

Mas seu sorriso nunca foi desfeito

Aguentou-me por 18 anos
Sendo xingada
Desrespeitada
Entre linhas
Muito amada

Ela é minha base
O chão que me sustenta
Uma mulher de sensível
O abraço que me contenta

Tudo o que sou, é culpa dela
Culpa do amor incondicional
Proporcionado por esta donzela

Caminhando contra o vento

Não sei o que pensar, não sei o que fazer, nunca soube o que sentir. Estou aqui, caminhando por uma estrada escura cuja iluminação precária de nada adianta. Caminho por uma estrada de asfalto, dura e áspera. Sei disso, pois já me machuquei em uma de minhas caídas corridas. Nada agradável.
Caminho sem um objetivo, sem uma meta, sem uma prioridade. Caminho sonhando acordado, ignorando os buracos abaixo de mim, ignorando os próximos que virão.
Não sei há quanto tempo estou andando. Já passei por muitas casas, muitos animais, muitos terrenos, muitos pedestres, mas nenhum me chamara atenção. Percorro este caminho, pois não há mais o que fazer. Percorro-o, pois não há mais como voltar.
Paro. Coloco a mão sobre a sobrancelha. Forço os olhos. Não há fim. Minha caminhada dará em lugar nenhum. Volto a andar.
Uma vez me disseram que a vida era movimento e que parado eu não devia ficar. Acho que é isto que me motiva a caminhar. Não sei. Talvez seja outra coisa. Quem sabe?
Um dia eu tento encontrar o motivo que me faz caminhar. Um dia eu tento encontrar algo com o que me motivar.

Labirinto de sonhos e loucura

Sigo por entre paredes ásperas e estreitas. Paredes que me apertam, que se apertam, que me aterrorizam, que despertam minha loucura. Labirinto complexo, repleto de armadilhas, conquistado pela escuridão, escravo de algo intocável, caos.
Sento-me em um canto, encolho minhas pernas, olho por entre o escuro, respiro fundo. Minha mente vagueia entre paredes de dor, paredes de lama, paredes de martírio. O tempo não passa, o espaço não muda, tudo muito novo, tudo muito diferente. Algo fora de costume, algo com o qual eu não estou preparado para enfrentar.
Barulhos ecoam, inimigos caem, amigos tombam, como sei quem estou acertando? Como saber onde minhas flechas irão parar? Eu não tenho controle, eu não tenho mira, é indomável, não tem como entender.
Meus olhos se fecham, estou perdido neste labirinto, entre paredes ásperas, entre sonhos e devaneios. Uma guerra já perdida, mas com um ponto de esperança. Posso ser o único vivo, posso ser o único louco, posso ser o único sadio, posso ser mais um morto.
Não tenho como fugir, não tenho como correr, problema interno, paredes cerebrais. "Eu" contra "Eu", como saber quem ganhar? Em quem devo apostar? O "Eu" ganha, o "Eu" perde, faca de dois gumes. Um golpe, dois mortos.

No escuro

No escuro as pessoas não fogem
No escuro os seres não gritam
Definham

No escuro as pessoas reconstroem os medos
Revivem uma loucura que deviam ter esquecido
Momentos há muito tempo reprimidos

No escuro elas procuram objetos
Uma forma de se equilibrar
Uma forma de se defender

Criaturas que as assombram
Criações de uma mente enlouquecida
Animais de várias formas
Animais de todos os tamanhos

No escuro ninguém se vê
Os diálogos fascinam 
No escuro ninguém se ouve
Todos fogem, alucinam

No escuro elas se perdem
Criam labirintos complexos
Paredes interligadas
Sem fim, desconexo

O escuro não tem fim
O escuro não tem calma
Ele te consome, inclusive
A alma

Desabafo

Eu queria entender o motivo das pessoas não acreditarem em mim. Eu faço tanta coisa errada assim?
Ninguém da minha família me apoia quanto minhas decisões. Eu não estudei para o vestibular que está acontecendo esta semana, eu não sei o que eu quero fazer da vida, eu não sei nem se quero viver até descobrir.
Este ano eu senti prazer quando subi no palco para apresentar uma peça de teatro, quando senti na frente do piano e executei uma música, quando li para outros um de meus poemas e não quando estava estudando. Eu já deixei de utilizar o lado esquerdo para utilizar o lado direito do cérebro, quero ser um artista, mas porquê é tão difícil me apoiar?
Minha avó acha que eu devo cursar outra coisa junto de música, meu pai me ligou dizendo que eu já devo procurar por um cursinho para o ano que vem. Por quê? E se eu quiser ser Gari, tu vai me deserdar? Ou melhor, me deserdar mais um pouco.
Pressão, pressão, pressão, que saco, vocês não enxergam o quanto dói isso? Eu sofro por antecipação, tenho insônia, vivo uma crise de existência e tenho depressão. Ótimo, mas responde uma coisa, pra quê?
Vocês não tem ideia de quanto eu tenho medo do que vem depois. Fico noites sonhando acordado pensando na merda que minha vida pode virar. Eu só não choro por que não consigo.

Capítulos repetitivos

Cansei de histórias com o mesmo final
Cheias de memórias irreais
Diálogos inventados
Cenas ensaiadas
Tudo para o nada

Construtor de uma cidade
Narrador de histórias
Escritor de uma peça
Construtor de diálogos
Vivendo um mundo que não existe
Até agora

Ates de dormir vou para um mundo inconcreto
Replete de meus pensamentos mais vorazes e famintos
Lá vivem minhas paixões, quem eu amo
Lá eu vivo minhas aventuras, com meus poderes, que eu amo

Desfruto de um mundo inteiramente meu
Onde acontece apenas o que eu quero
Mas de que adianta
Quando acordo vejo que nada existiu
Mas sei que quando voltar a dormir
Meu mundo será recriado
Viverei minhas aventuras
Encenarei meus diálogos
Escreverei minhas peças
Construirei minha cidade
Tudo, antes de acordar

Internar

Não sei o que quero
Não sei o que fazer
Penso tanto em algo incerto
Duvidando de minhas capacidades

Escolhas devem ser feitas
Mas como saber o que fazer
Para o resto da vida
Todo o dia
A toda hora
Muita pressão
O que pensar
O que dizer
Internar

Penso em muitas profissões
Música, biologia
Teatro, psicologia
O que escolher?

Como construirei um futuro
Não sei por onde começar
Dúvidas mundanas
Devo estudar

Mas pra quê?
Se estudo os livros
A vida me cobra outro estudo
Se estudo pela vida
A prova me cobra outro assunto

Sei fazer escolhas
Não sei quem é Fernando Pessoa
Me esqueci como fazer logarítimos
Sou cobrado por uma coisa que não uso

Sou inteligente
Mesmo tirando notas baixas
O papel não mostra minha capacidade
Mas quanto eu decorei

Então o que devo fazer?

O Passado