A noite havia chegado há muito tempo, assim como o caos já havia chegado a minha vida. O céu estava estrelado e a lua cheia estava em seu ponto máximo, porém seu brilho era ofuscado por algumas pequenas lâmpadas do jardim. Nenhum vento era sentido e nenhum som perturbava o silêncio daquela imensa clareira. As luzes da casa estavam apagadas e nenhum morador ou guarda caminhava pelo quintal.
A casa era grande, possuía três andares e ficava ao lado de um lago de água cristalina. A faixada era modelada com aspectos arcaicos e a coloração amarela esbranquiçada realçava as estátuas acinzentadas embutidas na parede. Ao lado oposto a casa, um pequeno morro escondia um campo de mini-golfe que era cercado, junto da casa, por uma densa floresta.
Eu estava parado em frente ao lago esperando que meus inimigos se aproximassem. Inimigos que me perseguiam por eu possuir um conhecimento superior, algo que os humanos comuns não se lembravam da existência. Mas, por mais que estivessem me perseguindo, isto não me assustava, eu estava calmo, com o corpo e mente tranquilos, me possibilitando sair de qualquer situação.
Pequenos barulhos ecoaram dentro da floresta, indicando a aproximação daqueles que me caçavam. Fechei meus olhos e me concentrei. Eu sentia a energia natural daquela planície, ela transitava por todos os vegetais, pelo lago, pelo ar e pelo meu corpo. Permaneci parado por um curto tempo, visualizando as energias e concentrando-as em minha testa, ativando meu chakra do terceiro olho. Quando abri os olhos notei que toda a escuridão havia sumido. A noite estava clara, como se o sol estivesse no ápice, mas ao invés da bola de fogo estar no céu, a lua permanecia no topo. Eu conseguia ver tudo com perfeita clareza, já que existia nenhum ponto de sombra.
Olhei para trás e vi que três vultos se mexiam por entre as árvores. Virei meu rosto para a água e perguntei aos seres que ali habitavam: “O que eu posso fazer?”. Uma leve brisa passou pelo meu corpo e uma voz doce e delicada inundou meus ouvidos: “Você consegue invocar flores?”. Eu não precisava de mais dicas. Tomei fôlego e pulei dentro do lago.
A água estava gelada fazendo meu corpo se contrair um pouco, mas isto não iria me atrapalhar. Fechei meus olhos e proferi palavras em uma língua arcaica, fazendo com que flores de diferentes espécies aparecessem na superfície do lago. Tomei impulso e continuei nadando dentro do lago. Eu estava de barriga para cima e assim que eu minhas mãos tocavam uma parte da água, novas flores surgiam. Rosas, jasmim, orquídeas, tulipas e violetas foram algumas das flores que eu consegui invocar para me esconder.
A cada centímetro que eu percorria dezenas de flores apareciam sobre a água, escondendo não só o meu corpo, mas também as vibrações que ele causava. Mas me preocupar com a possiblidade de me encontrarem não era o único problema, eu estava ficando sem fôlego e meu medo de emergir e ser pego não facilitava minha vida. Juntei minhas mãos e usei grande parte da minha energia para invocar uma quantidade gigantesca de flores, cobrindo grande parte do lago, camuflando ainda mais e dando-me a oportunidade emergir de respirar. Coloquei apenas meu nariz e boca para fora da água, puxando a maior quantidade de ar possível e voltando para de baixo d’água.
Nadei durante vários metros até que finalmente cheguei à outra extremidade do lago. Antes de emergir eu tentei sentir a presença de alguma energia desconhecida, mas como senti nada, ergui lentamente o meu corpo da água e olhei ao redor. Nenhum ser, humano, animal ou espiritual, estava presente naquele lugar. Um forte sentimento de alivio percorreu meu corpo, eu estava a salvo.
Chequei novamente o perímetro e saí do lago. Minhas roupas pingavam e eu não sabia para onde ir. Olhei para os céus e admirei a lua, esperando que ele me desse alguma resposta. Assim que olhei para o sul, um pequeno cometa rasgou os céus, transformando-se em uma estrela cadente. Olhei para onde ela apontara e corri naquela direção, entrando na floresta que me salvara muitas vezes.