A água do mar ricocheteava contra as pedras já desgastadas do morro Hilalau. Os pássaros, perdidos diante de uma tempestade que se aproximava, voavam rumo ao oeste em formação padrão. A vegetação, já úmida devido ao orvalho, se curvava perante o forte vento que assoviava ao redor do morro. O sol não se erguera naquela manhã, as nuvens cobriam o céu da cidade litorânea, tornando impossível enxergar algo à cima.
Hanz estava sentado no cume do morro, observando o comportamento agressivo do mar que se agitava descontroladamente contra as rochas. Sua respiração era lenta e despreocupada, mas seus sentimentos travavam uma guerra que parecia não ter fim. Seu cabelo, úmido devido ao orvalho, caia sobre os seus olhos e, às vezes, chocava-se contra seu rosto devido ao vento. Sua roupa, igualmente úmida, havia mudado de cor devido ao barro encontrado durante a caminhada. Sua mente, apesar de registrar as imagens das águas e do céu, estava longe, vagando entre mundos hipotéticos criados por situações impossíveis de se consertar.
- Hanz.
Uma voz conhecida ecoou por sua mente, quebrando o transe em que se encontrava. Ele não olhou para sua companhia, seus pensamentos, no momento, eram mais importantes que aquele ser.
- Hanz, por favor. - Sua voz era calma, baixa e melódica. Não indicava uma ordem, mas um pedido.
Lágrimas escorreram pelo rosto de Hanz, não de tristeza, mas de medo. Suas mãos e pernas começaram a tremer e seus olhos se desfocaram, algo mexia com ele.
- Eu consegui acabar com todas as chances de realizar meu sonho. – Suas palavras eram ditas entre soluços e pequenos grunhidos. – Eu não tenho mais motivos para continuar nestas terras mundanas.
- Isso não é verdade Hanz, você pode ter perdido uma oportunidade, mas não quer dizer que tudo se foi para sempre. – Ele encostou sua pequena mão no ombro de Hanz.
- Você não entende Kirk. – Disse ele mirando o chão.
- Por quê? Devido ao fato de eu não possuir as preocupações do mundo físico? Ou pelo fato de eu estar servindo de espirito guardião para você e ter falhado nesta batalha? O seu fracasso é o meu fracasso. A culpa também é minha.
Hanz ergueu sua cabeça e encarou o pequeno espirito que o acompanhava. Suas almas estavam ligadas, suas vontades, fracassos e conquistas eram a mesma, não havendo um único culpado. Ele voltou o olhar para as pedras a sua frente e contemplou, novamente, a agressividade da água.
- Desculpe-me Kirk.
- Tudo bem, mas o que você vai fazer agora?
- Você disse, quando nos conhecemos, que eu era um plantador.
- Eu sei, mas...
- Minhas árvores foram derrubadas. Resta-me erguer o meu corpo e replantá-las.
Hanz se levantou e começou a caminhar rumo à praia, não esperando uma resposta de seu amigo. Kirk permaneceu parado sobre a pedra que Hanz estava sentado, ora olhando para o oceano, ora para os céus, como se esperasse que algo de diferente acontecesse.
- Você não vem? – Disse uma voz abafada.
- Vou, eu só estava esperando uma coisa. – Kirk se virou e correu ao encontro de Hanz.
Uma forte rajada de vento percorreu o morro e pequenas gotas começaram a despencar do céu. Trovões ecoaram pelos ares e fortes relâmpagos cortaram o horizonte. A chuva começou a engrossar e o vento ficou mais forte, dificultado a locomoção dos viajantes. Hanz colocou Kirk em seu ombro e, juntos, caminharam para um lugar mais tranquilo, um lugar para que pudessem replantar as árvores.
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